sexta-feira, junho 22

Até já...

Os ciclos são feitos para serem encerrados. É a sua natureza.
Este ciclo não foge à regra, como tal, encerra-se. Não com um adeus, mas com um até breve, mas noutro local.
Quem estiver atento, encontra.
Quem quiser, procura.
Quem não quiser, paciência.

Obrigado a todos pela companhia, pelos comentários e pela força.

Convido-vos a juntarem-se ao novo ciclo, noutro lugar, com a mesma intensidade e com a mesma vontade de partilha.

A.S.

quinta-feira, junho 14

Carta

A nona carta dos vigésimos caminhos
em amarelos de verde pintados
em virgens de Fá sussurrando
levam na mão o esplendor
do eterno profeta de luz.

quinta-feira, maio 24

Semanas

A arte de bem passear o pensamento, é sempre acompanhada de um momento de ilusão e esquecimento, pelas viagens aos nosso sub-consciente.

quinta-feira, maio 17

Vozes

Cruas e duras senão secas
as cordas afónicas mais serão
dos gritos que esperas em torpedos
além das vozes que espirras ledas
e não és senão vivo caixão
das pontas e voltas desses pregos.

terça-feira, maio 15

Perfeitos encaixes - E-book gratuito

Tal como prometido, aqui fica o link para download do meu recente livro "Perfeitos encaixes".

Espero que o apreciem, embora seja um conjunto de pequenos textos reunidos com o único propósito de fazer nascer este singular livro.

A ideia de o distribuir gratuitamente é algo que me dá especial prazer.  Sei que não é algo de novo, mas penso que também nos cabe a nós, autores, poder proporcionar leitura universal e de acesso total.

Espero que o apreciem e, acima de tudo, que o partilhem com todos!

DOWNLOAD

OU

DOWNLOAD

(para fazerem o download devem fazer descer a página do browser até final e encontrarão um botão a dizer "regular download" com um contador decrescente de tempo. No fim do tempo, podem descarregar)


segunda-feira, maio 14

E-book

Brevemente um novo livro. Desta vez em e-book e vai ser distribuído por aqui.
Que tal?
Beijos e abraços

terça-feira, maio 8

A dois

Acendes archotes em vigas erectas
e agarras as crinas de pelos macios
compridas ou curtas na mão que segura
em investidas traseiras de peitos abertos
os quatro suportes anseiam as ondas
das vagas que voltam a ritmos incertos
e fazem soltar o gemido que escondes
na boca que cerras em dor da lembrança
do jeito que era do peito no peito
enquanto as ondas sentidas teriam
em vagas incertas é certo seriam
o calor que do peito no peito fervia
e o sexo de sexo já nada seria
apenas amor de amor se fazia.

Mim

Embrulhos caseiros de algodão doce
em pacotes de cetim e laços azuis
atestam-te a alma de doces enfeites
e de suaves deleites bailando na boca
ao sabor da aurora que breve se faz
e baixas o braço na espera que dás
aos olhos que mirem o raio de luz
do sorriso que abres na imagem de mim.

Universo

Gosto de mim e de ti gosto do mundo e da vida gosto de tudo e de nada gosto porque gosto e não por nada e porque gosto de gostar e gosto do gostar é que gosto de mim e de ti porque sim porque sim porque não também é sim e porque do sim e do não se faz futuro e do gostar se faz madrugada é que gosto de ti e de mim não só hoje porque sim nem amanhã só porque então mas de sempre como quem gosta apenas de mim e de ti em pequenos nadas de gostos e desgostos porque nem só de gostos se faz feliz nem só desgostos nos fez aqui mas também faz de mim e de ti todo o gosto que nos tenho e desse gosto é que te gosto mesmo que apenas de mim e de ti apenas de mim e de ti.

Pequenos

E o pequeno rapaz, que já não era pequeno há muitos anos, chegando junto do balcão, perguntava, incrédulo:
- Mas é mesmo verdade? A sério?
Os olhos arregalados evidenciavam o espanto de quem não queria acreditar, ou jamais vira tal coisa. Assunto sério, de elevada moralidade, recheado de novidade, assombrava-lhe a alma neste breve instante, de frente para o espelho que reflectia todo o peso deste menino, já pouco novo.
- Não pode ser! Só pode ser engano. Ninguém faz isso só por fazer. - repetia, vezes sem fim, à sua imagem oposta na parede que segurava o seu reflexo.
- Os meninos não crescem! Os meninos pequenos, ficam pequenos para sempre! Quem és tu, que mexes os meus lábios e piscas os meus olhos e abanas as minhas mãos e vestes as minhas roupas?
Aos poucos, as suas perguntas abafadas e feitas de si para si, tornavam-se gritos, em crescendo de emoção e lágrimas em torrentes.
- Quem? Quem? - questionava de braços no ar - Quem és tu que me tomaste e apoderaste do meu corpo? Quem, demónio sujo que de mim levaste o meu ser? Vai-te e leva-me contigo, mas deixa-me a alma que me pertence!
Os meninos pequenos não ficam crescidos. Nem os espelhos devolvem os pequenos meninos.
Levam tudo e devoram almas, em raios foscos, invisíveis, de tentação.
Os meninos pequenos não ficam crescidos. Nem os crescidos meninos foram já pequenos.

Pai

Sinto saudades, sabes? Saudades tuas, do teu cheiro, do teu abraço, da tua voz que nunca ouvi. Saudades de seres em mim o que nunca vi ou senti. Saudades dos olhos que não conheço, de cores ouvidas ou conhecidas em retratos velhos. Sinto-te falta em mim. Nas longas conversas que nunca tivemos, nos conselhos que nunca me deste. Sinto falta de ti. Sinto a falta desse abraço vazio de palavras, no silêncio do momento, em que tudo é dito de olhos fechados e lábios cerrados. Sinto a falta desse colo, do teu colo. Não de um colo qualquer, não. Desse, do teu.
Também sinto falta que me ralhes, que me chames à razão. Apesar de nunca o teres feito, tenho saudades disso mesmo. Gostava de reviver os momentos que nunca vivemos, nas horas de diálogos nunca tidos, em dias nunca vividos. Mesmo sem ser à lareira que nunca tivemos, ou no carro em que nunca me ensinaste a conduzir, sinto a falta das tuas ideias, da tua opinião.
Sabes, sinto-te falta sem nunca te ter tido para mim.
E tenho saudades tuas, muitas saudades tuas pai.

domingo, maio 6

Que sentes

Sentes que sentes
mas sentes tu que sentes
ou apenas sentes que sentes
se não sentes que sentes?

sábado, maio 5

Sucos

Sente-se o suco que espreita
em beijos ejaculados e dados
de frios abraços perdidos
e jeitos de peitos colados
no tempo que ficamos despidos
em esperas de mais sementes
que de poucas foram sentidas
mas vividas no ventre coberto
ou beijinhos incessantes de calor
nos intervalos do nosso amor.

segunda-feira, abril 23

Quadro

Sabes a tinta da China e carvão preto
quando rascunhas na minha pele
em traços desconexos de prazer
ou em breves rabiscos largos de emoção
as cores vivas da tua feição
e as páginas abertas do teu peito
no meu quadro branco ainda cru
na espera que o pintes mais perfeito.

quinta-feira, abril 19

Costumes

Esclerosadas unhas de cetim posto
em verniz seco, desmanchado
de gretadas figuras de rosto posto
aspiram negrumes já vividos
em jeitos de bocas enrugadas
entre gemidos e ais de mais prazer
nas falsas montadas de olhos postos
e falsos prazeres de rotos costumes
nos mantos gélidos das garras que cruzam
a pele que arde em fios de sangue.

Carved

Paintings lying on the wall
staring straight as if I was
the only staring at the wall
or those paintings staying there
just remaining, nothing more
until the light begins to fade
and nothing more could I just stare
beyond those paintings on the wall
carved in stone in my black brain.

As if

Fuck me, rape me, kill me now
like always, like before
fuck me hard as if I was
the face to fuck and nothing more
but fuck me hard and not alone
as if you cared and please pretend
that at least you took the chance
to see my face beneath your breast
saying love, I'll still make love.

Desvidas

Desvidas em mim não vivem
nem revivem se não podem
as vidas idas não vividas
ou loucas passagens de Inverno
em memórias sujas revisitadas
na revolta da segunda vaga
que de diferente nada foi
dos dias intervalados que se foram.

segunda-feira, abril 16

Nada mais

Mete-se o nojo de pensar
e asco e vómito de saber
das voltas idas ao passado
em retratos desfeitos de beleza
ou imagens despidas de verdade
na busca certa ao que se é
em vómitos despidos de capas duras
ao que não escondes mais o que não foste
e és só o que és e nada mais.

Desnós

Sabes de mim, de ti, de nós?
Em nós e nós de nós?
Ou sabes que nós não dão mais nós
Enquanto nós nos damos nós de mais nós
ou atamos desatadamente de nós.

segunda-feira, abril 2

Gone

Punch lions and rape trees
while embracing the wild wind
closing the stressed eyes
to the cold winter before you
as I fall asleep in your bed
and smell the flesh on my skin
that's no longer mine or yours
but gone.

Heart

Can you feel the feelings' feeling
over the red and blue above
sky with shame in its face
while the blood remains at my feet
and not pumping anymore
within the heart that shouts and screams
with no more to love or care, just die?

Librairie - Marais


The famous one...


domingo, março 25

Egoista

Fracas, fáceis e falsas
senão outras, esta mais
que da vida tudo teve
e não foi senão igual
nos dias que hoje aparecem
ao que antes dizia mal.
Sabe-se o gene nestes instantes
em que se altera o momento
e vê-se de todo em rompante
o carácter que se define.

quarta-feira, março 7

Leito

Nada de jeitos em teu redor
entorpecem o teu rubor
nem um pouco mais de ti
nem tão pouco mais do mim
ao jeito que o leito dá
nos abraços do nosso ser
ou na calma do nosso ter.

Espásmico

Sinto-te as coxas ofegantes
em espásmicos ritmos ofegantes
enquanto me emprestas um beijo à face
e um abraço ao teu desejo.

terça-feira, fevereiro 21

Branco

Estou rodeado de branco. Paredes brancas, cama branca, lençóis brancos. Tudo é branco. Perfeitamente branco. Não de um branco qualquer. De branco branco. Não há enfeites esbranquiçados, não há pontos escuros, nem sequer móveis de outra cor. Agora, reparando melhor, nem há móveis sequer. Apenas uma cama, uma pequena mesa-de-cabeceira com um copo cheio em cima e três paredes que consigo ver no meu horizonte. Presumo que atrás de mim exista mais uma. Prefiro não olhar para já. Não quero imaginar que atrás de mim o mundo se feche em mais uma parede branca. Empurro-me para junto do copo e tento perceber pelo cheiro se realmente é água que repousa no copo. É um disparate, penso. Se for água não cheira a absolutamente nada. De qualquer forma, insisto. Óbvio: não cheira. Suponho que seja água, mas não a levo à boca. Não tenho assim tanta sede, nem me apetece ter certeza nenhuma. Aliás, quero efectivamente não ter certezas nenhumas. Essa é a única certeza que tenho. Prefiro a ignorância deste branco. Curiosamente, este pensamento, cospe-me a coincidência da cor que me rodeia ao não querer saber de nada. Realmente o branco é incerteza, é tudo e não é nada. É um mundo puro, perfeito, sem fim, mas impossível. Estarei a sonhar? Pisco o olho à cama branca e reparo que está perfeitamente alinhada junto à parede. Deve ter sido colocada milimetricamente ao centro. A cabeceira encosta-se à parede lisa, mesmo à minha frente, com a mesa do seu lado direito. Acho aquela disposição algo estranha. Não pela correcta centragem do leito, mas porque, afinal, a única distorção neste alinhamento é precisamente a mesa de cabeceira, que se encosta desproporcionadamente nesta parede. Parece que falta uma outra do outro lado da cama branca. Se der dois ou três passos atrás poderei ver melhor, em perspectiva. Tento comandar o pé direito mas detenho-me. E se embater noutra parede? Ou, ainda, se não embater em nada? E neste caso, quantos passos poderei dar mais? Pouso o pé entorpecido. Baralha-me a questão dos passos. Ainda agora tentei perceber se a água era água. Quantos passos terei dado? Começo a ficar impaciente por não conseguir chegar a nenhuma conclusão. Terão sido dois, três? Bolas! Detalhe! Preciso de prestar atenção ao detalhe! Sinto a cara a escorrer suor e o corpo a começar a ficar ligeiramente mais quente. Sei, agora, que estou a começar a ficar desorientado. Tenho de rapidamente encontrar uma solução. Não posso ficar estático nesta posição indefinidamente. Pensando melhor, porque não? Se ficar assim, resolvo a questão. O branco continua branco as três paredes brancas permanecem brancas, a cama não mudará de cor e o copo nem se partirá sequer.

Decalque

Decalco-te o seio em minhas mãos
em traços largos sob a cama
e pinceladas breves nos lençóis.
Decalco-te no leito que foi meu
e teu e nosso a cada sopro
para que a tua forma lá se quede
enquanto te perco por um instante.

segunda-feira, fevereiro 20

Véus

Véus caídos soltam os enfeites
de castas semi-puras pensam eles
de brancos aventais em rituais
que cospem das favelas imaginárias
as asas que não se abrem para voar
mas antes fecham cortes de idiotas
que se julgam livres com enfeites
ou após os soltos devaneios
das donzelas que soltam seus cabelos

Vinho

As pipas de vinho caíam em magotes de cor avermelhada, infestando de um nauseabundo cheiro a viela escura e suja das traseiras. Entornava-se vinho rua abaixo, pintando um manto de espuma o empedrado que terminava na rua principal.
- Os jumentos entornaram o vinho novamente. Bestas! – guturou, entre dentes, um velho estendido no passeio.
A rua era escura, pintada de negro e nem a sombra lá entrava. Havia gente espalhada em cada esquina. Esticavam-se todos em mantas e pedaços de cartão para suportar o frio. As noites ao relento enrijecem os ossos. Passado uns tempos, parece que o frio já nem é frio. Tornamo-nos imunes. Desfrios.

Madrugada

Estridentes imagens esvoaçam nos meus olhos
de fálicos arranjos em teu redor
ao som de quentes embalos de peito aberto
em rítmicos embalos de frases feitas
enquanto soltas o teu pranto já sincero
à madrugada vizinha que lesta se mira
e aperta o regaço de quem a despira.

Tu, és

Sabes que tu não és tu
nem eu
nem nós.
tu nem tu, nem és
nem nada do que és
nem tudo que te és
ou nada em que te vês.
Tu, nem tu és
nem és tu que te és.
És, simplesmente,
a sombra que não te és.

Atilhos

Paredes de negro
em quadros sujos
penduram-se a medo
as botas de mim
descalças do dia
cansadas e gastas
de aço fundidas
as biqueiras desfeitas
que soltam a brita
da tarde de dor
nas costas pesadas
da carga vestir
em idas e voltas
de atilhos caídos
sem preocupação
nem jeito de nós
levam as suas mãos
deixando-os soltos
à sua solidão.

Dedos

Saboreio-te o cheiro que deixaste
em dedos que por ti já passearam
enquanto olho para dentro e vivo seco
as memórias do cheiro que deixaste
nos mesmos dedos que por ti já lá ficaram
no mesmo manto que o teu cheiro vai deixando
mas hoje apenas arde nos meus dedos.

Flashes

Obscenos videos reflectem na retina
em bruscos flashes negros e fumo branco
repetem incessantes momentos já vividos
e renascem imagens obtusas de negro giz
trazendo às costas feras de tiranos
em cargas de força e grunhos de sebo
à medida que o grito cresce e já se estira
do peito que aberto não mais suspira
nos intervalos dos berros que vomita.

Vitrais

Cheios vitrais de cor em janelas sujas e baças pelos tempos respiram a medo a luz que os penetra em bafos raiados de vento e gotas que pedrejam os beirais em murros de soco nos batentes em esperas de dias e dias estáticos quedam-se hirtos em molduras e impávidas esperanças que se quebrem em mil pedaços de fragmentos.

Flor

Antúrios descalços e vermelhos
que pendem soltos em teu regaço
juntam-se em pés de mais unidos
traços de cor de mais amigos
ou flores que já secas ainda se quedam
em ramalhetes de vida e cor do teu amor
que da lembrança apenas resta essa flor.

Sopros

Ri-se para mim e eu pergunto
ou penso em que par se tornam belos
ali, à minha espero enquanto páro
e olho e miro em pé descalço.
Revejo com as mãos que quedam firmes
em jeitos sem saberem que fazer
ou antes sem perdão de não tocarem
a espera que se espera sem saber.
Abraço-te com a boca de olhos fechados
enquanto imagino o teu rubor
e sinto-te as mãos pelo meu jeito
enquanto a boca suga o teu peito.
E páro.
Páro no meu jeito do teu peito
em breves sopros já mirando
em olhos mais que abertos e vibrantes
de te ver encher o peito com ternura
de mãos dadas com o jeito do teu beijo.

Marés

Gosto do mar enquanto sonho
de gente cheio, vibrante, em suas casas
nos invernos frios, revoltados
e sem almas que lhe acompanhem a solidão.

Toques

Sinto-te o cheiro nos meus dedos
em pontas da mão que lá passeia
entre toques e aromas bem sentidos
e suspiros de sorrisos não contidos
em viagens de pele suave em toques quentes
e entretantos de coxas firmes e mais ardentes
nas voltas dos toques leves e penetrantes
do ventre que espumando vai-se soltando
em coros de suspiros largados ao vento
em sussurros mudos e não despidos
do par que fazem com o toque enaltecer
os dedos as pontas e tu de ser.

De beijos

Morro-te nos lábios
nas voltas da tua boca
entrelaçado em línguas vivas
de vai-vem doce de emoções
e olhos que fechados tudo sentem
em mãos que acompanham a tua pele
e puxam e repousam tudo à volta
entre gritos sem ar e mudos arrepios
à medida que o beijo lento acelera
e as mãos que leves eram tornam garras.

quarta-feira, fevereiro 15

Os pés

Dedos que roem o asfalto
em joanetes de dor e mais ardor
em unhas que reviram cor de dor
dos dedos que passeiam ou se quedam
em pés que calcam o piso seco
gretados de vielas andantes
enrolados em pele seca e decadente.

Pés

Detesto pés!
Mas gosto de andar com os meus.

Soalho

Passeio-me em calcanhares despidos
dentro de mim e mais ninguém
em pontas de pés varridos de lembrança
ou vagas memórias de passos dados
enquanto percorro as tábuas deste leito
antes passadas a vinte dedos
em direcções cegas sempre iguais
de lado postas juntas coladas
às costas que juntas uniam as asas
em passos brandos secos neste soalho.

Descartável

Descartas o agora que se foi
do descartável da vida que te foi
em dias e dias sempre iguais
de viagens iguais de mais e mais
em cuspidos valores de carneiros banais
já que hoje é só presente
amanhã jamais ausente
e o ontem não é mais.

Mim

Gosto de mim e de ti
mesmo quando em mim nada te vi
ou em ti nada revi
e mesmo assim gosto de ti
mais que de mim sem ser a ti
que de mim tudo em ti
não é mais que de mim senão em ti.

Inocência

Que sabes que sentes e pendes
desse teu ar tão inocente
que sente que sabe do mundo
a frescura de tenra ternura
mas que pende em vago olhar
quando sabe que sente vazios
dos frios encaixes de tudo
e sente que sabe o mais puro
dos olhares de um inocente?

Janelas

Espreitam-se reflexos às janelas
sujas e baças pelo tempo
de imagens desfocadas do teu ser
enquanto esperas da alma reviver
as fotografias de presentes inconstantes
embaciadas também elas em teu olhar
que vira e revira nessas janelas.

Sorriso

Saltam os dentes em teu sorriso
dos lábios que entreabem o sabor
do beijo que pede a tua língua
entre os que espreitam sorrateiros
e se apoiam à janela
da tua boca enquanto sorri.

terça-feira, fevereiro 14

Bermas

Cospem-se em fogo de escarros velhos
os velhos que fogem de barba suja
e espumam-se as bocas de nojo vazias
em amarelos dentes que mascam tabaco
enquanto se estendem as mãos vazias
ou chapéus que pendem na berma da estrada.

Passos

Rasgam-se as pedras em calçadas
de teus passos em largos voos
que de caminhos soltos se apressam lestos
de par em par em altos saltos
em vidros de peitos e meias altas
negras vielas que sobem a coxa
de foguetes que ardem da fuga que fez
nos passos que passam a rua calçada
e apressam o passo da tua pegada.

Sombra de mim

Serei eu a sombra que te segue
ou alma vazia de assombro em teu calor
de brisas na esquina do teu ser
ou apenas o escuro da silhueta que te esvai
em passos largos à minha espera
na luz da rua que te estende
em pedaços frágeis de mim em ti
que da luz da alma te contorna o rosto
em sorrisos escondidos da minha vez
mesmo em frente à sombra em que me vês

Ardor

Amo-te porque sim e porque não
porque és e não me és
quando tens e não vens
se me és e não te vês.
Amo-te em dias e noites de solidão
em horas e horas de rasgão
do tempo que passa em meu ardor
ou tempo que pára em teu redor
de imagens nua sob a cama
ou de pele despida apenas tu
em esperas e esperas sem senão
de fervores quentes em frescos arrepios
da pele que dos corpos saúda em saudades
enquanto a espera se deleita à tua imagem.

segunda-feira, fevereiro 6

Magias

Magia em movimento aos teus enfeites
de triunfais devaneios em teu furor
na espera de novos rumos em nós quedamos
nos entretantos de mais vezes que nos amamos
ou antes da espera em chama que subjuga
a vontade do querer e não poder

Espera

Enfeito-me o berço de peito vazio
na cama que despes em passos de lã
enquanto te julgas de fado crescida
ou anjo de branco sem asa despida
e jorro-me fel e sonhos soltos
em aguardente de sonho de noites vividas
dos dias que noites retornam em pranto
sem escarro nem jeito nem tanto recanto

Nojo

Espero-te em punhais de ponta manchada
de asco e nojo e verme de vómito
enquanto te trocas das vestes que cais
em mundanas vitórias de trajes iguais
ou escapas de nada em tudo sem cor
de guturais imagens gritando nas bermas
dos cantos de encantos que nunca terás
em saltos que altos apenas te empurram
ao nojo do nojo que enjoando te ves

Leito

Desfeitos os laços de nós e malhas
em cruas vestes de leitos sós
enquanto a espera se espreita vazia
ou antes não volta dos jeitos e voltas
nos mantos de brisa fresca em tua pele
ou repastos dos teus prazeres
em pedaços soltos de aroma fechado
do traço que traçam as pernas que enjeitas
ou fazes que trazes e jeitos te dás
no lento manto de encanto no leito
que nosso já foi e para sempre terá
o cheiro que nosso teima em não fugir

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quinta-feira, fevereiro 2

Assobiam-se

Arrotam-se piegas à janela
dos enxovais secos e gastos
que passam desgostos rotos e sós
em assobios enrolados
desgostos passados
e piscar de olhos ao luar.

quarta-feira, fevereiro 1

Sinal

Reparo agora nesse sinal.
Jamais havia dado por ele!
Curioso...
Pende-te escuro e seco, como se fosse gritar,
correr, pular e berrar, aos mais altos recantos do ser!
Já o tinhas?
Como antes nunca o vi?!

Perfeito

Sabes aquele pardieiro sujo, deslavado e escuro, lá no alto do meu pensamento?
Aquele imundo antro de estupidez atroz que daqui se vê?
Sabes?
Perfeito.

Chão

Seguem-se as mãos
atrás do vento
Quantos?
Dedos há que não apontam
nem sequer sabem pender
entrelaçam-se em vergonha
Já?
E os olhos que não abrem?
Nem sequer a muito custo!
Atrás do vento segues tu
nem sentes que sentes o ar do vento
ao desbravar-te em caminhos de sopro
enquanto te levantam os pés do chão.

Espera

De olhar preso em teus fantasmas
sigo de frente o teu rasto vazio
em pegadas secas nas margens húmidas
esperando encontrar-te lá de noite
na infinita imagem do teu olhar
enquanto o meu pranto me acompanha
par em par o teu sentido
ou a espera de te encontrar.

Sabes?

Sabes, quanto me és?
Tu, sim, tu, sabes quanto me és?
Sabes?
E quanto de ti em mim respiras e suspiras
de tanto sufoco trespassado
ou vagas memórias de longos anos
das vidas vividas e mais sofridas
de tempos mortos e mortos em vida
ou vidas que foram mas nunca resistem
em tempos do tempo que nunca se apaga
em abraços já dados e mais por viver
em beijos de face ou soltos no vento
Sabes?
Que pedaços de mim a ti te pertencem
sem dono nem laços que a ti te condenem
nem grilhos que prendam a dor da distância
mas saibam de sempre a ponte que liga
em margens de frente com fios que atam
as luzes que unem as almas para sempre
Sabes?
Sabes, tu, mãe?

Ais e ais

Eu e tu e nós e mais
demais de mais em ais e ais
de tais ou ais e mais que vais
em sais de mais e muito mais
ou ais e ais de apenas ais.

terça-feira, janeiro 3

Pulsar

Que o peito meu se rasgue em costelas rotas em sangue
em desventrados enfeites rotos de pontos manchados
ou em feridas que não fechem caminhos de nojo
e permita descansar em golfadas compassadas de cor.
Rasguem-se horizontes ensanguentados pela aurora.

Ofuscos

Desfaz-me o grito em cruas certezas
ou rasga-me a voz em tiras soltas
E esventra-me a alma com finas agulhas
em pontadas cirúrgicas de verdades etílicas
Mas não me aqueças em mansas falas
regadas, banhadas de logro e falsidade.

Almas

Dói-me a alma em sufoco
de espinhos moles em caules secos
dos ramos velhos descobertos
em magotes de esperança e novas vidas
de novos dias renascidos
ou nados-vivos semi-mortos.

sexta-feira, dezembro 23

Pensa

Pensa!
Que pensas que pensas?!
Pensas! Pensa!
Que pensas tu, quando pensas que pensas?
Que pensas, que pensas?

Voz

Chupem-me os miolos pelas narinas
Mas depositem os neurónios nos jornais
embrulhados em papel rasgado
Para nunca mais riscarem a minha voz.